
A Harmonia dos Vinhos de Corte

Durante muito tempo os apreciadores de vinhos não tinham ideia sobre quais variedades de uvas compunham suas bebidas: o que realmente importava era a região de origem e o produtor, produtor este que, durante boa parte do período histórico da produção vinícola, se preocupou muito mais com a quantidade de vinhos produzida do que com a qualidade.
Foi apenas com o princípio da vinicultura no Novo Mundo que nomes como Cabernet Sauvignon, Syrah e Chardonnay tornaram-se mundialmente famosos. Especialmente nos Estados Unidos e Nova Zelândia, a estratégia de marketing era ressaltar a utilização das melhores uvas europeias, destacando uma qualidade e estilo similares à dos até então tidos como melhores vinhos do mundo.
Daí surgiu o favoritismo dos consumidores por uma ou outra casta de uvas, e a divulgação das mesmas em cada rótulo ganhou espaço em praticamente todas as vinícolas ao redor do planeta.

Vinhos de Corte ou Assemblage são vinhos feitos com diferentes variedades de uvas.
A distinção entre vinhos varietais, elaborados com apenas uma variedade de uva, e de corte (ou assemblage), resultantes da mistura de vinhos de diferentes variedades, também tem o seu surgimento aí. O que antes não recebia importância havia então se transformado em um divisor de águas na produção da bebida.
Embora não sejam exatamente uma novidade – afinal a mistura de vinhos de diferentes uvas remonta a tempos ancestrais – o novo cuidado com os vinhos de corte fez surgir um sem número de novas técnicas para a vinificação.
A definição das uvas utilizadas em cada corte jamais é aleatória, sendo cuidadosamente estudada por especialistas a cada safra, e variando conforme o estilo de cada região.
Atualmente, cada corte é elaborado conforme a safra e as características de cada variedade de uva, seus devidos terroirs e o tipo de clima que enfrentaram. Se for necessário adicionar mais corpo, aroma, ou cor ao resultado final, outra variedade – às vezes até mesmo mais de uma – podem ser adicionadas a fim de se obter os resultados desejados.
A proporção entre a uva principal e as que são adicionadas ao corte costuma girar em torno de seis para quatro (60% de uma, 40% de outra), mas raramente as adições ultrapassam mais de 25%, tornando difícil encontrar cortes que possuam apenas duas variedades de uvas. Mesmo os varietais, que teoricamente são produzidos a partir de uma única casta, a depender da legislação local podem conter pequenas parcelas de outras uvas, como no Chile, por exemplo, onde um dito varietal deve conter no mínimo 75% de uma mesma uva para poder adotar tal nome em seu rótulo.

A mistura de uvas pode trazer mais complexidade ao vinho.
Um mesmo corte pode, no entanto, receber diferentes proporções de uvas ou diferentes combinações a cada safra, a depender da qualidade das mesmas. Em um ano especialmente ruim, por exemplo, pode ser necessário reduzir, mascarar, ou mesmo descartar uma das castas e favorecer outras, acrescentando à mistura até mesmo safras de anos diferentes para que se obtenha um vinho de qualidade exemplar.
Esta característica resulta em exemplares únicos a cada ano de novos lançamentos, transformando os vinhos de corte em um encanto por si próprios, contando parte de sua história a cada gole sorvido.
A Denominação de Origem Controlada, ou “DOC”, é o que define o nome e estilo de cada região vinícola na maioria dos países do mundo, e antes da popularidade das castas era o padrão para a nomenclatura dos vinhos.
Nos dias de hoje, a toda poderosa Bordeaux, na França, é mundialmente famosa por seus vinhos de corte, que ocupam quase que totalmente a produção regional. As variedades Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Petit Verdot estão entre as principais utilizadas pela produção bordalesa, que ao longo dos séculos se especializou na produção de alguns dos melhores cortes reconhecidos, safra após safra.
Embora muitos especialistas considerem que somente os varietais realmente reflitam as características de sua região, demonstrando as características de seu terroir e do clima onde as uvas foram cultivadas, os vinhos de corte apresentam o melhor de mais de um mundo, um casamento de uvas que proporciona a quem experimenta um pedaço da história da fabricação dos vinhos.
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