
Degustando | Lua Cheia em Vinhas Velhas 2009

O vinho fora da garrafa
Às vezes, ao provar um vinho é como se eu estivesse abrindo uma daquelas lâmpadas magicas das estórias em quadrinhos onde são aprisionados gênios milenares. É como se entrasse em um mundo de fantasia e imaginação muito além da própria euforia que o vinho provoca. O que causa esse efeito magico não são as moléculas de álcool circulando pelo corpo. É o resultado de outra química, uma mistura de memórias e curiosidade como só o vinho sabe provocar. Para mim, o vinho não é só o que está dentro da garrafa.
Fora da garrafa, se espalham os pensamentos que fazem imaginar de onde vem esse vinho, quais são as paisagens do lugar. Largas planícies que parece não acabar, como no coração da Espanha, onde as vinhas são cultivadas em arbustos rasteiros, sem apoio para os galhos que se esparramam pelo chão? Ou será que são plantadas nos pés de montanhas altas e nevadas, à espera de degelo para garantir o pouco de agua que precisam para viver e produzir seus frutos sagrados, como na Mendoza argentina. E as pessoas que vivem por lá, como é sua história? Lá na mesma Mendoza, foram tribos indígenas Huarpe os primeiros a criar canais de irrigação que permitiram a transformação de um deserto em uma dos mais produtivos pomares da Terra. Que outros desafios notáveis o homem terá superado para que hoje eu desfrute dessa taça cheia de sabores e aromas…
Quando provei o Lua Cheia em Vinhas Velhas 2009, a mágica funcionou mais uma vez. Para começar, que nome de vinho mais sugestivo à imaginação! Instantaneamente meu teletransportador foi acionado e caí às margens do Rio Douro, nordeste de Portugal. Um cenário deslumbrante a qualquer visitante, com encostas que serpenteiam enquanto o rio busca seu caminho para o mar em meio a montanhas de pedra bruta. A aridez da paisagem provoca um efeito dramático que se torna mais impressionante à medida que observamos os patamares criados pelo esforço humano ao longo de séculos em que trabalhou na plantação da uva na região. Imagino quanto suor e engenho exigiu a construção de muralhas de pedra que fazem a contenção do solo raso onde a videira prospera. São literalmente milhares de quilômetros de muros erguidos com pedras quebradas a picareta num tempo onde as maquinas de terraplanagem nem sonhavam existir.
Bem, a essa altura vocês devem estar pensando: muito interessante e romântico mas, e o vinho, vale à pena?
Vale MUITO à pena. O encanto começa por sua cor brilhante e dourada e as “lagrimas” generosas que escorrem na taça anunciando uma boa estrutura, necessária a que esteja em grande forma após 3 anos em garrafa. Os aromas evoluem sem pressa. Não tenha pressa você também para desfrutar deles. Falam de frutas e tostados, denunciando que nasceu em barricas de carvalho. Os sabores são de frutas cítricas e marmelada, de novo o tostado e ainda uns tons minerais, falando dos solos de xisto onde estão plantadas as diferentes variedades de uvas, misturadas ao acaso há dezenas de anos: são as “Vinhas Velhas” tão tradicionais no Douro. O que pedir para acompanhar um vinho assim? Em primeiro lugar, amigos para dividir os sabores e a ocasião, que é uma das melhores coisas que o vinho proporciona. Pode melhorar se escolher um misto de camarões de lulas grelhadas sob um fio de azeite ou, se preferir, um peixe ao forno, com batatas cozidas em molho de vinho e alecrim, quem sabe. Qualquer que seja sua escolha, com ou sem comida, é um vinho que permanecerá longamente em seu paladar, vai deixar saudades. Dos seus sabores e das memórias do Douro…
Por José Augusto Saraiva
Vinho: Lua Cheia em Vinhas Velhas 2009
Região: Douro – Portugal
Uvas: vinhas velhas plantadas aleatoriamente
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