
Cabernet Sauvignon: a rainha

Não raramente mencionada como a “Rainha das Uvas”, a Cabernet Sauvignon está presente em praticamente todas as regiões vinícolas do mundo. Da Europa à África, da Ásia até a Oceania, tal como em todas as três Américas, todas as principais regiões produtoras de vinho ao redor do globo possuem os seus exemplares da casta dos quais se orgulharem.
Pertencente à espécie vitis vinifera, é originária de Bordeaux, na França, a principal região vinícola do mundo. Aparece com este nome desde registros do século XVIII; tendo sido recentemente constatado ser uma variedade proveniente do cruzamento entre as uvas Cabernet Franc e Sauvignon Blanc.
A produção bordalesa de tintos baseada na Cabernet Sauvignon, apesar de não ser a maior em área plantada, nem a maior em volume produzido, é praticamente um padrão internacional, vastamente imitada nas demais extensões onde seu plantio se faz presente.
Ainda na Roma Antiga, a Cabernet Sauvignon aparece com o nome de “Biturica”, nome de uma tribo bárbara do noroeste europeu.
Espalhou-se pelo mundo a partir dos anos 70, juntamente com o “padrão Bordeaux”, e sua tamanha popularidade deve-se principalmente ao fato de a variedade possuir uma admirável capacidade de adaptação – ao contrário das castas de terroir, que raramente vingam fora de sua região de origem, qualquer lugar sem calor ou frio extremos receberá muito bem a Cabernet Sauvignon.
Em termos comerciais, a sua boa reputação abre portas. É sempre interessante a uma vinícola principiando no mercado possuí-la entre seus rótulos, pois sua respeitada presença costuma auxiliar nas vendas: não somente da própria Cabernet Sauvignon, como também nas de outras variedades que possam vir a ser produzidas pela mesma vinícola, pois se combina bem na elaboração de cortes – vinhos elaborados a partir de mais de um tipo de uva -, adicionando riqueza e complexidade a cepas mais rústicas, sem jamais perder suas particularidades principais, independente da mistura onde seja incorporada ou do seu local de cultivo.
Dentre as principais características que classificam a Cabernet Sauvignon como soberana entre as uvas, destacam-se a sua resistência contra pragas e excesso de chuvas, e o seu espetacular rendimento por hectare plantado, gerando uma maior quantidade de cachos sem perdas sensíveis de qualidade. Tem fruto pequeno, de pouca polpa e pele grossa, dotada de uma cor preta, ou violeta profundo que resulta em tintos de cor mais escura que a média.
Sua maturação tardia auxilia na concentração de aromas, que podem variar através de uma extensa gama de frutados, herbáceos e minerais, conforme a região de plantio da videira e do processo de vinificação realizado.
A sua versatilidade também permite a passagem da Cabernet Sauvignon por macerações mais longas ou curtas, maturação tanto em barrica de carvalho, como recipientes de concreto ou inox, proporcionando o consumo da bebida resultante tanto mais jovem, apresentando maior leveza e taninos mais elevados e marcantes, ou na maturidade, quando apresenta corpo de médio a alto e tende a taninos mais elegantes e arredondados, mas ainda fortemente presentes.
As uvas mais plantadas em Bordeaux, por ordem de hectares cultivados, são a Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc.
O período de descanso dos tintos produzidos a partir da Cabernet Sauvignon, entre barril e garrafa, costuma durar cerca de cinco a dez anos, nos vinhos mais jovens, podendo facilmente ultrapassar as quatro décadas, como é o caso de alguns dos melhores vinhos provenientes de Bordeaux.
Fora a já mencionada França, terra natal da Cabernet Sauvignon, cujo estilo de produção desta uva serve como modelo para o mundo inteiro, a produção da variedade também concentra expoentes na Califórnia, EUA, Austrália, que apresenta Cabernets mais potentes e herbáceos, Toscana, na Itália, Nova Zelândia e Chile.
No Brasil, o plantio da Cabernet Sauvignon também se iniciou, de forma regular, a partir dos anos 70, embora se especule que mudas da videira já existissem em terras tupiniquins desde 1900.
À casta de “terroir”, denomina-se a uva cuja parreira depende mais das condições do solo do que do clima para dar bons frutos.
Atualmente, juntamente com a Merlot, é a principal responsável pela produção de tintos nacionais. Todas as regiões vinícolas brasileiras contam com área plantada da Cabernet Sauvignon, que apresenta características ligeiramente diversas conforme o clima local.
Embora seja um desafio enorme conseguir a maturação correta da Cabernet Sauvignon em temperaturas tão instáveis como no Brasil, tintos como os da Serra Gaúcha se adéquam com quase total perfeição ao padrão europeu – com baixo teor alcoólico e coloração mais escura -, enquanto os produzidos na região de campanha do Rio Grande do Sul são mais complexos e estruturados, possuem teor alcoólico mais elevado e tons de cor mais suaves.
Em Santa Catarina encontram-se os exemplares com melhor predisposição ao envelhecimento em barris de carvalho, tal como no Paraná, em que a estrutura do vinho pede esta passagem pela madeira para ser mais bem consumido.
No Nordeste, onde o calor excessivo pode vir a prejudicar a uva, normalmente são elaborados vinhos de corte, combinando a Cabernet Sauvignon com castas como a Syrah, e Alicante Bouschet.

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