
Como reconhecer um vinho autêntico?

Quando falamos que um vinho é autêntico, estamos apenas nos referindo que ele foi produzido pelo autor de sua mistura, pelo enólogo que o inventou, o que significa que se trata de um vinho genuíno, com a assinatura do seu criador.
O vinho autêntico tem a assinatura do seu criador.
Assim, quando você ouvir as expressões “vinho autêntico” ou “vinho natural”, verifique se não é apenas material de publicidade, onde essas expressões se tornaram moda, buscando colocar para o consumidor, na maior parte das vezes, qualidades que certamente aquele vinho não possui. Ou seja, dizer que o vinho é autêntico precisa que seja comprovada a sua autenticidade com a assinatura do autor (e essa é uma assinatura invisível, que só pode ser verificada através do sabor, do aroma, dos taninos do vinho que estamos apreciando).
Qualificações aplicadas ao vinho autêntico
É evidente que, quando surge algo diferente e curioso, até mesmo estudiosos se prestam a debruçar sobre o assunto, tentando explicar causas, motivos e convergências sobre o tema. Foi isso o que aconteceu com a expressão “vinho autêntico”.
Em 2011, dois escritores (e apreciadores de vinho) fizeram um estudo aprofundado sobre o tema, procurando dar um significado à expressão, e publicaram um livro de 259 páginas, intitulado “Authentic Wine – Toward Natural and Sustainable Winemaking” (Vinho Autêntico – Em Busca da Vinicultura Natural e Sustentável, se buscarmos uma tradução inteligível).
Os autores são Jamie Goode, que é jornalista científico e comentarista de vinho em diversas publicações da Inglaterra, e Sam Harrop, um “master of wine” e produtor de vinho, além de atuar como consultor independente em enologia em diversos países, como França, Inglaterra, Portugal e Nova Zelândia.
Para os dois estudiosos, o vinho só pode ser considerado autêntico quando apresenta as seguintes qualificações:
• Vinhedo autossustentável, devendo ser respeitado como um agroecossistema próprio, dando oportunidade de produção de microrganismos, insetos e plantas para manter a saúde do solo (o famoso terroir), com a aplicação de espaçamentos e de sistemas de condução apropriado, crescendo num ambiente integrado ao meio.
• Maturação na hora certa, com a colheita realizada no ponto exato para que a uva retenha o frescor e sua definição produtiva, evitando variações no potencial do açúcar, que irá produzir o álcool do vinho.
• Manutenção do ambiente, reduzindo ao máximo as medidas de impacto da intervenção humana, com o mínimo de liberação de gases de efeito estufa, desde a plantação da cepa até a prateleira, dando à uva a sensibilidade necessária para a produção do que melhor ela possui.
• Uva perfeita, livre de defeitos, mantendo a vigilância para evitar também defeitos no produto final, que prejudicaria a qualidade do vinho.
• Respeito ao terroir, ou seja, a todas as condições para que a área onde está o vinhedo proporcione as qualidades que serão expressas finalmente no vinho.
• Elaboração natural do vinho, mantendo todos os sentidos aplicados na viticultura, com manipulações mínimas para que o vinho expresse perfeitamente a qualidade de sua origem.
Na época atual, entretanto, se formos levar em consideração todos esses fatores, uma mínima gama de vinhos poderia receber o conceito de vinho autêntico. Os vinhos, em sua maioria, são produzidos comercialmente, e respondem a uma demanda do grande mercado consumidor internacional.
Um vinho autêntico pode ser apenas apelo publicitário: cuidado!
Essa abordagem feita pelos jornalistas britânicos contempla apenas algumas poucas vinícolas, buscando atender um público selecionado e quebrando a homogeneização da produção industrial, trazendo à tona vinhos definidos, complexos e com esse senso de naturalidade, provindos de uma região destinada à produção dos belos vinhos. Esse, no entanto, é um mercado atualmente muito restrito.
As qualificações de um enólogo para o vinho autêntico
Retornando ao princípio do artigo, quando nos referimos a um enólogo falando de sua criação, podemos afirmar que ele, ao falar que seu vinho é autêntico, está apenas referenciando dois fatos principais:
• O vinho foi produzido para refletir o seu desejo de produção;
• O vinho produzido é autêntico por ser natural, feito da maneira mais tradicional possível.
Assim, podemos entender que um vinho é autêntico quando sua uva teve práticas saudáveis de cultivo, com colheita manual, maceração a frio em curto espaço de tempo, sem adição de fermentos, usando apenas leveduras naturais e produzido pelo processo natural, trazendo a qualidade da uva de que foi feito.
A grande diferença que existe no vinho autêntico é sua disciplina, mantendo-se na contramão da história, sendo único em seu gênero e não podendo aceitar uma padronização, que é a tônica aplicada na globalização.
Deixe que o vinho autêntico lhe procure: é isso o que ele gosta de fazer.
O vinho autêntico é aquele que procura pelo seu consumidor (não deixando acontecer o contrário), apresentando-se de maneira charmosa e exclusiva, tendo a audácia de ser diferente de todos os outros, esperando apenas que o apreciador de bons vinhos descubra suas características e sua história de vida.
São os vinhos diferenciados, não sendo necessariamente muito caros, embora sejam produzidos em escalas menores, em pequenas vinícolas. Se você quiser um vinho autêntico, já sabe onde procurá-los.

Comentários
Parabéns por compartilharem