
D.O.C. e D.O.C.G. na Itália têm a ver com qualidade?

Para se orientar nessa densa teia, é preciso primeiramente entender o seguinte: a finalidade de uma Denominação não é garantir a qualidade de um vinho, e sim sua tipicidade.
Definições:
D.O.C = Denominazione di Origine Controllata (Denominação de Origem Controlada)
D.O.C.G = Denominazione di Origine Controllata e Garantita (Denominação de Origem Controlada e Garantida)
Diante de um vinho italiano, muitas pessoas se pegam pensando: “hum, este é um DOC, então é bom… E este é um DOCG, então é melhor ainda!”. Quem não está muito por dentro do mundo do vinho, se baseia nessa regra e a segue como guia para avaliar a qualidade. É um comportamento compreensível (e que até tem uma dose de verdade), mas que não deve ser um guia absoluto.
“Então um vinho DOCG não é necessariamente um dos melhores vinhos da Itália?” A resposta fica entre o sim e o não, mas vamos te explicar de modo que não fique difícil.
As D.O.C‘s e D.O.C.G‘s são denominações geográficas, como especificamos acima, e estão relacionadas ao território e suas uvas típicas, o que não significa que isso dita a boa ou má qualidade de um vinho. Pode indicar apenas as características dele.
A marca D.O.C foi introduzida no ano de 1950 pelo Ministério da Agricultura Italiana e até hoje são 330 os vinhos italianos com essa classificação estampada no rótulo.
A legislação prevê e define as especificações para cada DOC. As mais comuns são: áreas de produção, uvas permitidas, tipo de solo, rendimento das videiras, tecnologias, métodos e tempo de envelhecimento. Depois desse rígido controle, os vinhos são submetidos a uma análise químico-física e a um exame organoléptico antes da comercialização.
Já a legislação de DOCG entrou em vigor em 1967 e até hoje conta com 74 vinhos admitidos. Ela pode ser atribuída apenas aos vinhos que já tenham obtido a DOC há pelo menos 5 anos e tenham adquirido prestígio e valorização nacional e internacional, levando em conta fatores naturais, humanos e históricos. Esses vinhos, além dos mesmos exames previstos para os DOC’s, têm que receber uma análise técnica adicional durante a fase do engarrafamento e uma análise sensorial (degustação) antes de serem colocados no mercado.
As D.O.C‘s e D.O.C.G‘s são denominações geográficas, estão relacionadas ao território e suas uvas típicas.
O descumprimento de até um detalhe mínimo impede a comercialização sob as marcas DOC e DOCG, portanto isso nos leva à pergunta inicial. É evidente que, como os padrões mínimos têm que ser respeitados, isso consequentemente se traduz num aumento da qualidade média; mas uma vez que estes requisitos são alcançados, fica a critério do produtor elevar ainda mais o nível qualitativo ou se contentar com o resultado mínimo. Por isso é possível encontrar dentro de uma mesma denominação vinhos absolutamente extraordinários e vinhos apenas medianos.
Mas a questão não acaba por aqui, porque cada denominação prevê requisitos diferentes, portanto (pegando alguns exemplos da mesma região) um Brunello di Montalcino nunca poderá ser comparado a um Morellino di Scansano: são ambos DOCG da Toscana, mas a legislação prevê regras completamente diferentes para a produção de cada um. Multiplique estas variáveis pelo número de denominações e verá que está no meio de um belo quebra-cabeça.
Para se orientar nesta densa teia é preciso primeiramente entender o seguinte: a finalidade de uma denominação não é garantir a qualidade de um vinho, e sim sua tipicidade.
A partir daí, temos que ressaltar também que, se por um lado isso perpetua justamente a tradição e o legado de um vinho com o seu território, por outro, fixa também limites, mesmo em alto nível, onde é proibido experimentar outras uvas, utilizar técnicas mais ousadas ou acompanhar as tendências internacionais.
A finalidade de uma denominação não é garantir a qualidade de um vinho, e sim sua tipicidade.
Por isso muitos produtores preferem abrir mão das denominações de origem controladas e classificar seus vinhos como IGT (Indicazione Geográfica Tipica), denominação mais abrangente e supostamente de qualidade inferior, mas onde, de fato, é possível encontrar vários vinhos bem superiores a muitos DOCG (como por exemplo, os supertoscanos).
Então, se você quiser provar um vinho bem característico de uma região italiana, escolha um DOCG ou um DOC, mas se prefere um vinho menos ligado à tradição, porém sem perder as principais características da região, um IGT pode ser o seu vinho. Lembrando que, para todos os casos, o que faz a verdadeira diferença é a mão do produtor.

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