
Como aprender a identificar aromas no meu vinho?

Nem sempre é fácil identificar aromas num vinho. É claro que há os mais simples, os mais complexos e, às vezes, por já conhecermos a uva e a região, acabamos indo no automático de dizer as características que já sabemos que ele tem. Mas e se fosse uma degustação às cegas? Ou ainda: e se você não conhece a uva ou a região?
Dia desses, um amigo iniciante nesse assunto disse sobre um Pinot Noir argentino: “nossa, acho que eu nunca tinha tomado um vinho daquela cor. Era uma delícia, eu adorei!”. E eu, claro, provoquei o esforço: “Conta mais! O que você achou? Nariz, boca…”
“Carol, eu só sei que era bom. Sei dizer até que ele era muito ‘cheiroso’. Mas não sei identificar o que tinha nele. Sinto peso na consciência de não me lembrar do cheiro de um morango!”
A minha reação foi imediata: “Nós vamos fazer um programa que vai resolver isso! Vamos ao Mercado Municipal cheirar todas as frutas!”. Ele riu, é claro, mas insisti: a melhor maneira de aprender a identificar aromas no vinho é tendo-os na sua memória.
É o que chamamos de memória olfativa. Pode reparar que você busca essas referências para qualquer coisa que leve ao nariz: quando uma comida está estragada, dizemos que está com “cheiro de azedo”. Quando chove, algumas pessoas dizem que está com “cheiro de chuva!”. Quando estamos num caminho com muitas árvores e terra, é comum sentirmos “cheiro de verde, de natureza” ou coisas do tipo. Quando entramos em uma serralheria ou em uma loja de móveis rústicos, sentimos “cheiro de madeira”. A gente tenta até adivinhar temperos e ingredientes quando sentimos o cheiro de alguma comida sendo feita. Essa é a nossa memória olfativa, as referências que o nosso cérebro tem de aromas que a gente já conhece. No vinho é a mesma coisa.
Mas como abastecer e enriquecer essa memória? Simples: cheirando tudo que for possível, sempre. Quando propus ao meu amigo de cheirarmos frutas, especiarias, ervas e afins, disse que era possível completar a experiência e torná-la ainda mais didática comprando algumas dessas coisas para abrirmos um vinho em casa com as referências em mãos. Assim, você sente os aromas do vinho e procura no meio de tudo aquilo o que mais se assemelha ao que está sentindo.
Enriquecer a sua memória olfativa (e gustativa também!) torna a experiência com o vinho mais fácil e ainda mais agradável. Eu lembro de quando comecei a identificar aromas no vinho alguns anos atrás, quando adentrei esse universo. No começo, era muito difícil. Depois foi ficando mais fácil, mas ainda limitada. Na primeira vez que senti algo com muita convicção, foi uma alegria, por mais que pareça besteira. Outro dia, esse mesmo amigo identificou jabuticabas num vinho. A alegria dele me trouxe a memória de anos atrás.
Aprimorar nossa experiência com esse momento é tão gostoso! Ainda mais quando pode ser tão simples assim. Então, sempre que for comprar frutas, ervas, especiarias, vegetais, não se esqueça de cheirá-los e guardar a referência na memória. E esses são só os básicos… Você já deve ter ouvido pessoas dizendo sobre um vinho: aroma animal, couro, estrebaria e aí por diante. Essas também são referências que a gente ganha ao longo da vida e dos lugares que frequentamos.
Abaixo, um infográfico que exemplifica alguns aromas.
Infográfico Aromas dos Vinhos
Tim tim!
Texto: Carol Oliveira
Imagem: Kayanami Amaral

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Comentários
Olá Carol,
Adorei as suas dicas para identificar o que há por trás do aroma do vinho. Eu costumo cheirar tudo isso que você recomendou, por exemplo é assim que escolho as minhas frutas e também as ervas que uso nos pratos que preparo. Porém nunca associei essa memória olfativa na identificação dos aromas dos vinhos. Vou experimentar.
Valeu !!!!
Abraços
Amei o texto, leio todos, mas este foi o que mais me aproximou da realidade que enfrento ao tentar entender melhor o universo do vinho. Parabéns!