
Mendoza, a capital argentina do vinho

Por Euclides Penedo Borges

A região de Mendoza fica no oeste da Argetina
Além da natural vocação da área para o cultivo de uvas – terrenos pouco férteis com ótima permeabilidade, excelente insolação, temperaturas elevadas no verão com pouca chuva – alguns fatos históricos se encarregaram de fixar as áreas em torno de Mendoza como a região vinícola por excelência na Argentina. Dois desses fatos envolveram a Itália.
O primeiro foi a contratação do Engenheiro Cesare Cipoletti para desenvolver o sistema de irrigação dos solos mendocinos, estéreis e secos, a partir das águas do degelo, antes carreadas de forma rudimentar pelos indígenas locais.
O dique Cipóletti, atração turística de Luján de Cuyo, testemunha a ação do engenheiro que mereceu uma estátua no local ao lado do seu teodolito.
O segundo foi a chegada de imigrantes italianos, muitos deles com conhecimento de vinicultura. Conta-se que o governo pagava aos imigrantes uma pequena quantia para que se fixassem no local. A conseqüência no início foi a superprodução de vinhos populares.
Despertanto para a qualidade
A produção e o consumo de vinho na Argentina atingiu níveis elevados na primeira metade do século XX e até os anos 1970 mas a maioria era de vinhos sem condições de entrar no mercado mundial. Isso não era problema tendo em vista o elevado consumo local.

Nos anos 1990 a região se voltou para uma produção menor e de alta qualidade.
Dessa forma o país se tornaria uma das grandes potências vinícolas do mundo nos anos 1990 quando trocou os grandes volumes voltados para o mercado interno por uma produção menor de alta qualidade dirigida ao mercado externo. E o fez com tanto sucesso que conseguiu em pouco tempo, menos de vinte anos, importante nicho no mercado mundial de vinhos.
Em Mendoza, a casta Malbec, originária da França, encontrou seu habitat ideal e tornou-se a uva emblemática da Argentina. Mas a qualidade da Cabernet Sauvignon e da Syrah na região é também superlativa.
A influência estrangeira
A presença estrangeira na produção vitivinícola mendocina a partir de 1990 foi decisiva para a melhoria.
Embora a província de Mendoza disponha de enorme área de vinhedos e seja importante produtora de viníferas, ainda existe por ali grande quantidade de terrenos aptos para o cultivo ainda não utilizados. Apesar dessa disponibilidade os preços dos terrenos em dólares por hectare tem subido gradualmente e a razão para isso tem sido a instalação de empresas estrangeiras ao lado das argentinas tradicionais.

Vinicultores de todo o mundo se atraíram pela região.
A Espanha faz-se representar pela Bodega Séptima, do Grupo Codorniú, e pela O. Fournier, em La Consulta. Os portugueses da Sogrape fincaram pé em Barrancas adquirindo a tradicional Finca Flichman. Os austríacos dos cristais Swarowsky detém as ações da Bodega Norton.
Os italianos Alberto Antonini e Roberto Cipresso tem interesses respectivamente em alto lãs Hormigas e na Achaval Ferrer, esta sempre constando da lista dos melhores vinhos do mundo da Revista Wine Spectator.
O Brasil comparece com a Otaviano Bodega y Viñedos, dos vinhos Penedo Borges, um projeto de 5 brasileiros em Luján de Cuyo, em terreno de 70 hectares dos quais 48 plantados com Malbec, Cabernet Sauvignon, Syrah, Chardonnay e Sauvignon Blanc além de pequenos cultivos de Petit Verdot e Cabernet Franc.
Não tenho a pretensão de ter feito uma lista completa. O que eu gostaria de salientar é que boa parte dos consumidores de vinhos argentinos de rótulos como Norton, Terrazas, O. Fournier, Penedo Borges, etc. talvez não saiba que Mendoza, alem de orgulho argentino na elaboração de vinhos de qualidade, inclui uma comunidade que congrega europeus de França, Itália, Espanha, Portugal, Áustria, bem como sulamericanos do Brasil e do Chile. Em uma única província do Cone Sul.

Euclides Penedo Borges é professor de enologia na ABS Rio, instrutor de degustação, sócio e diretor técnico da Otaviano Bodega & Viñedos (Mendoza, Argentina), escritor com seis livros publicados (Editora Mauad X)

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