
O potencial de guarda dos vinhos

“Quanto mais velho, melhor” é um dos mitos mais falsos associados ao vinho. Cerca de 90% dos vinhos em comércio nas prateleiras do mundo inteiro é para pronto consumo e apenas o restante é para guarda.
Guardar uma garrafa de um vinho “comum” só faz sentido se para você tem um valor sentimental, tipo: herdou do avô, comprou numa bela viagem, foi um presente de uma pessoa cara, é da safra do seu casamento, do ano de nascimento do seu filho, enfim se aquela garrafa tem uma história que lhe diz algo. Neste caso pode guardar como lembrança. Mas não pense em beber o líquido se a tal garrafa passou de 5-6 anos de vida, pois provavelmente será bom apenas para condimentar uma salada.
A recomendação para a maioria das garrafas de vinhos em circulação é de abrir nos primeiros anos de vida. A regra geral (com as devidas exceções) é de 3-5 anos para os tintos e 2-3 anos para os brancos. Isto quando a garrafa é corretamente conservada, ou seja, deitada, em lugar fresco e ao abrigo da luz. Caso contrário este prazo pode se reduzir ainda mais.
Do lado oposto, a minoria esmagada de vinhos de guarda. Os enófilos mais experientes procuram garrafas “idosas”, tendo como máxima aspiração Barolos envelhecidos, Bordeaux de safras antigas e Borgonhas maduros.
Então as perguntas surgem espontaneamente: o que torna um vinho mais longevo que outro? Qual é o ingrediente que transforma um vinho qualquer num vinho de guarda?
Pode perguntar para um novato, para um expert ou até para um cientista do vinho, a resposta será a mesma: nós não sabemos com certeza absoluta.
De fato a questão está ligada ao processo oxidativo que qualquer vinho enfrenta a partir do momento em que ele é produzido e engarrafado. A fase de oxidação vai chegar naturalmente para todos os vinhos, mas quais são os componentes que a alongam a vida deles?
A regra geral (com as devidas exceções) é de 3-5 anos para os tintos e 2-3 anos para os brancos. Isto quando a garrafa é corretamente conservada, ou seja, deitada, em lugar fresco e ao abrigo da luz.
A teoria mais aceita é que depende da acidez do vinho: ela seria a espinha dorsal, a viga de sustentação de toda a estrutura do vinho.
Outros afirmam que o segredo está na própria estrutura, no extrato, ou seja: quanto mais robusto, mais poderá envelhecer. Mas isto não nos convence pois não explica porque então vinhos sutis e pouco robustos (como os da Borgonha ou de Jura) consigam ser tão longevos.
Outros dizem que depende da quantidade dos taninos: mas também discordamos, senão não se explicaria o grande potencial de guarda de alguns brancos (que praticamente não contêm taninos).
Outros ainda apontam para o terreno, para a qualidade da área de produção, o que certamente faz sentido, e ademais também podemos levar em consideração o clima. De fato safras mais quentes produzem vinhos menos longevos e os “catastrofistas”, devido ao fenômeno do aquecimento global já estão prevendo o fim da produção de vinhos de guarda, justamente por causa do aumento das temperaturas médias ao redor do mundo.
Pode ser, mas mesmo assim não estamos muito convencidos, baste pegar como exemplo a safra de 2003 na França, uma das mais quentes de sempre. Hoje, aqueles vinhos feitos para envelhecer (os grand crus de Bordeaux e Borgonha, para simplificar o conceito), depois de 13 anos estão com muita saúde, firmes e fortes e com potencial de ir muito mais longe ainda. E safras mais frescas como a de 2006 já vem perdendo fôlego.
Enfim, como dito, não temos uma explicação abrangente e totalmente confiável.
Portanto a nossa conclusão é a seguinte. Não fique esperando o tal do momento certo ou aquela ocasião especial: abra sua garrafa quando tiver vontade e seja feliz. Na dúvida é melhor beber um vinho ainda não pronto que um já passado do ponto.

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