
Os Místicos Vinhos Portugueses

A origem do cultivo de uvas e das técnicas de produção dos vinhos em Portugal é incerta, mas remonta de períodos ancestrais, muito anteriores à era cristã.
Protegidas por seus reis após as invasões bárbaras e do domínio dos mouros, encerradas em torno de 1110 d.C., as vinhas portuguesas, que se viram quase extintas nesta época, encontraram um novo florescer, em especial graças aos mosteiros, que em virtude da religião preservaram a tradição vinícola para que encontrassem o seu caminho na história.

Portugal detêm um dos maiores patrimônios genéticos do cenário vitivinícola mundial.
O solo português abriga mais de trezentas castas de uvas nativas, dificilmente encontradas em qualquer outro lugar do mundo – exceto à rara exceção de alguns poucos territórios espanhóis -, tornando o país o detentor de um dos maiores patrimônios genéticos do cenário vitivinícola mundial, ainda por ser completamente explorado: nem todas as variedades possuem uma expressão significativa dentro da produção nacional, e muitas sequer obtiveram ainda uma completa implementação em todo o território de Portugal.
Outrora, quase que exclusivamente conhecido pela produção do famoso Vinho Madeira, Portugal vêm transformando sua produção nos últimos dez anos como jamais antes em sua história. Alentejo, Estremadura e Ribatejo, regiões que durante anos produziram grande volume de vinhos, mas sem grande conhecimento técnico ou preocupação com qualidade internacional, passaram a buscar a especialização a partir dos anos 70, quando ao fim da Revolução dos Cravos um sem número de cooperativas vinícolas se espalhou pelas terras lusitanas, o que certamente fortaleceu a produção, mas afastou seus melhores exemplares das prateleiras mundo afora.
A Revolução dos Cravos foi um golpe de estado militar, ocorrido em Portugal no ano de 1974, que encerrou o regime democrático e implementou uma política nacionalista no país.
Atualmente, a procura do renascer econômico dos vinhos portugueses nos traz uma oferta de rótulos únicos e diferenciados, apresentando castas que fogem do lugar comum, com aromas e sabores únicos no mundo.
Dentre tantas variedades, cada região produtora reforça seus ícones, tal como o Vinho Verde produzido na bacia do Minho, elaborado a partir de uvas brancas Alvarinho que, com frutos pequenos e casca grossa, não produz muito suco, mas uma vez fermentada dá origem a um vinho ligeiramente mais alcoólico, longevo e encorpado do que as demais variedades da região, como a Loureiro, que como delata o nome, remete ao aroma de folhas de louro, e a Arinto, também conhecida como Pedernã, que está entre as mais ecléticas castas de uvas portuguesas.
A Arinto não apenas participa da conformação dos vinhos Verdes, como também empresta seu frescor a outras elaborações de brancos ao longo de praticamente todas as regiões produtoras de Portugal.
A Tempranillo espanhola tem enorme popularidade em Portugal – mas é conhecida na região do Alentejo como Aragonez, ou Tinta Roriz.
Outra variedade portuguesa de grande importância à produção de vinhos é a Touriga Nacional. Equiparando-se à suas irmãs brancas, a Touriga é uma uva tinta considerada como parte essencial da consagração do vinho português ao redor do mundo.
Originada nas regiões do Dão e do Douro, a casta tem se expandido ao longo de todo o país, na última década, e também atravessado fronteiras rumo à África, Austrália, e até mesmo ao Brasil.

A Touriga Nacional é uma das uvas portuguesas mais conhecidas mundo afora. Seus vinhos são tintos muito escuros, poderosamente aromáticos.
A valorizada importância do Porto foi o que manteve a existência de outra uva tinta portuguesa, a Cão, que também dotada de baixíssima produtividade teria desaparecido, não fosse o esforço dos produtores locais em mantê-la viva, por virtude de seus tintos delicados que ajudam a suavizar o corte do vinho do Porto.
Ainda entram na conformação do Porto tinto a Touriga Franca, também conhecida como Trincadeira ou Tinta Amarela que, mais suave e produtiva do que a Touriga Nacional, adiciona ao produto final do Porto muita cor e perfumes.
A mítica dos nomes dados às uvas pelos portugueses gerou um novo apelido aqui no Brasil: o Periquita, que na verdade se aplica apenas à uva, e não ao vinho que produz.
Seis diferentes variedades de uvas podem entrar na conformação do vinho do Porto branco, mas as principais costumam ser a azeda Esgana Cão, Folgasão, a quase exclusiva da Região do Douro Viosinho, a Verdelho, a Malvasia Fina e a Rabigato.
Outra localidade dona de uma história milenar, os vinhos da região de Bairrada se interconectam, em especial, com a história da uva mais plantada em todo o território português: a Baga. Difícil de dominar, pode se tornar excessivamente tânica e adstringente se a maceração passar do ponto, mas resulta em frescos vinhos tintos e até mesmo espumantes, sejam eles roses ou brancos.
Se muitos dos nomes de uvas aqui surpreendem, soando cômicos ou no mínimo pitorescos, seguem ainda mais alguns que revelam o bom humor dos nossos irmãos mais velhos de Portugal: Bastardinho, Água-Santa, Borrado-das-Moscas, Vinhão, Souzão, Donzelinho, Tinta Caiada, Olho-de-Lebre e Pau-Ferro.

Veja outros itens relacionados
-
-
Uva Merlot: quando a popularidade encontrou a elegância
-
Austrália: o vinho do outro lado do mundo
-
Os encantos do Vale do Rapel, no Chile
-
Entrevista | La Ronciere: o desafio do vinho perfeito
-
Harmonizando | Bife com batata frita
-
Profissões do vinho: Enólogo
-
Conhecendo bem a Malbec
-
Dez mandamentos anti-ressaca
-
Degustando | Lua Cheia em Vinhas Velhas 2009
-
Definindo um Terroir
-
Como harmonizar vinhos e queijos
Deixe um Comentário