
Pinot Noir: vinhos perfumados e misteriosos

Natural da região francesa da Borgonha, e lá cultivada há milênios, a Pinot Noir é tida como a mais complexa das uvas tintas. Dotada de cachos pequenos, de uma cor violeta profunda, tem frutos pequenos e um amadurecimento muito precoce, o que torna o seu cultivo uma operação difícil e delicada – qualquer clima que se diferencie demais do fresco equilíbrio de sua terra natal resulta em um vinho adocicado e sem caráter, mas, quando desenvolvidos à perfeição, os vinhos tintos provenientes da Pinot Noir são pálidos, perfumados e misteriosos, dotados de taninos pouco agressivos, mas firmes.
Raramente é utilizada em cortes, destacando-se mais a produção de varietais da uva que, complexa por si mesma, pode desaparecer ou prejudicar as qualidades de outras castas, se combinada.
Estima-se que os primeiros cultivos da Pinot Noir datam da época dos Gauleses, em 150 a.C.

A Pinot Noir também entra na composição do famoso Champagne: reza a lenda que o próprio Dom Pérignon favorecia as uvas tintas em lugar das brancas, dada a sua tendência a dupla fermentação
A Pinot Noir também entra na composição do famoso Champagne: reza a lenda que o próprio Dom Pérignon favorecia as uvas tintas em lugar das brancas, dada a sua tendência a dupla fermentação. Mas fato era que ainda assim, quando guardado na garrafa, o caldo das Pinot Noir interrompia sua fermentação com achegada do Outono, e a recomeçava na Primavera, originando o gás que conformava, portanto, o primeiro Champagne.
Antiga como é, a Pinot Noir é a casta mãe das variedades Pinot Gris e Pinot Blanc; e estudos recentes comprovam que mais outras 16 castas de uvas possuem características genéticas da Pinot Noir. Entre elas, a Chardonnay, Gamay, Muscadet e Malbec.
Para os mais radicais, só existem Pinot Noirs da Borgonha – responsável pela fabricação do vinho tinto mais cobiçado do mundo, o Romanée Conti, que chega a custar mais de R$ 10.000 a garrafa -, mas a sua produção, apesar de rara, também se faz presente em outras partes da França, como no Vale do Loire, e mesmo ao redor do mundo.
Adorada na Borgonha, o Duque Felipe, no ano de 1395, proibiu o cultivo da uva Gamay, em favor da Pinot Noir.
Ainda na Europa, há uma boa oferta de Pinot Noir na Itália, especialmente na região da Úmbria e da Toscana; a Suíça também é uma produtora em larga escala, muito embora seus Pinot Noir, apesar do bom custo/benefício, estejam ainda distantes da qualidade e complexidade de seus iguais da Borgonha.
A Alemanha, que embora conte com uma produção limitada de tintos, tem na Pinot Noir uma de suas principais uvas; assim como a Áustria que, apesar de suas primazia nos vinhos doces, tem melhorado os seus exemplares de Pinot Noir a cada dia.
Portugal e Espanha também contam com a produção da uva, mas seu desenvolvimento ainda se encontra em caráter experimental; tal como outros países da Europa ainda sem muita expressão, mas que também buscam seu filão de mercado junto com a Pinot Noir.

O vinho tinto mais cobiçado do mundo: Romanee Conti, 100% Pinot Noir
Nos Estados Unidos, sem dúvida, estão os melhores vinhos tintos da capa fora da região da Borgonha, e talvez os únicos a rivalizar com a qualidade da terra mãe da Pinot Noir. Napa e Sonoma, na Califórnia, e Willamete Valley, no Oregon, são os maiores destaques; com ênfase nas sub-regiões de Carneros e Russian River Valley.
Após anos de estudos e planejamentos, especialistas da Nova Zelândia concluíram que o país possuía localidades com clima e terroir adequados para o plantio da Pinot Noir, tornando-a hoje um dos principais expoentes da variedade.
Ao sul do país, na região de Central Otago, são produzidos os mais disputados exemplares do país; outras regiões de destaque são Malborough, ao norte, Wairarapa e Martinborough. Embora estas sejam as principais regiões produtoras do Pinot Noir na Nova Zelândia, é possível encontrar o seu plantio ao longo de todo o arquipélago.
Já na América do Sul, o Chile é o principal destaque, produzindo Pinot Noir cada vez mais completos e, dia após dia, mais e mais disputados. As principais regiões produtoras são Casablanca, Vale de Limarí, e Vale de San Antonio, este último, que vem apresentando talvez os mais espetaculares vinhos com base na Pinot Noir do continente. Uma quarta região, a de Manzanar, já vem sendo explorada, onde as vinhas da variedade tem se adaptado com perfeição.
A Argentina, embora tenha começado o cultivo posteriormente ao Chile, já colhe resultados impressionantes da uva, com destaque para a região de Rio Negro, na Patagônia, que já tem posto no mercado exemplares de altíssima expressão.
O Brasil, dentre outras das regiões produtoras ao redor do mundo, também já vem obtido um bom desempenho com a Pinot Noir, embora aqui, as dificuldades de seu cultivo sejam amplificadas em virtude do clima instável. Boas garrafas provêm do Rio Grande do Sul, mas Santa Catarina também tem despontado com vinhos de qualidade baseados na uva.

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