
Como avaliar a qualidade de um vinho?

Semanas atrás, abri um Côtes-du-Rhône que estava na minha mesa há tempos, só esperando pelo dia que me daria o prazer de bebê-lo. Eu, que adoro Côtes-du-Rhône, estava ansiosa (e com expectativas).
Safra 2012. Uma cor linda. Não entregava muito nos aromas e parecia quente. Nesse momento já fiquei um pouco decepcionada, mas tudo bem, talvez fosse só o caso de deixá-lo respirar um pouco. Um gole. Absoluta decepção.
Extremamente desequilibrado no álcool, ele não mostrava nada do que um Côtes-du-Rhône tem para oferecer. Cadê as frutas vermelhas? Cadê aquelas especiarias deliciosas da Syrah? Tudo sumiu, tudo foi ofuscado pelo álcool excessivo. A minha chateação era aparente.
Só que a vida é muito curta para tomar vinho ruim. Trago como lema (e serve para café também).
Mas como avaliar a qualidade de um vinho? Gostar ou não gostar é uma questão pessoal, mas qualidade é outra história… Então, comecemos por saber identificar os principais deles no infográfico abaixo:
Desequilíbrio
Claramente, o Côtes-du-Rhône dessa história tinha um defeito: desequilíbrio. Os vinhos têm três elementos base: álcool, acidez e taninos. Para que ele seja considerado um vinho correto, entre outros fatores, esses três elementos precisam estar em equilíbrio, o que significa que um não se sobrepõe ao outro. Se qualquer um deles ofuscar atributos do vinho a ponto de comprometer as percepções sobre ele, significa que ele está desequilibrado. No Côtes-du-Rhône, por exemplo, o álcool era tão exagerado que não conseguimos perceber mais nada sobre ele.
Falta de tipicidade
Tipicidade é identificar se o vinho apresenta as características esperadas para aquela uva e região. Aqui, nós temos que tomar um cuidado: nem sempre um vinho atípico é ruim. Eu já me deparei com Carménères atípicos e agradáveis. Mas também já encontrei Syrahs atípicos e desagradáveis. A falta de tipicidade pode ser considerada um defeito quando ela compromete as características primordiais da uva ou da região. Por exemplo: a Gewürztraminer é uma uva super aromática. Caso você se depare com um vinho dessa uva que tenha pouca expressão no nariz, pode ser considerado um defeito. O mesmo acontece com a acidez da Sangiovese ou com a característica terrosa dos Pinots Noir da Borgonha. Por que? Para que um Gewürztraminer seja pouco aromático, um Sangiovese, pouco ácido, ou um Pinot da Borgonha, pouco terroso, alguma coisa no processo de produção, engarrafamento, transporte ou armazenamento precisa ser feita de maneira incorreta a ponto de comprometer a qualidade do vinho. Pode ser que ele tenha sido feito com uvas de má qualidade, que tenha sido produzido de maneira descuidada ou que o armazenamento ou transporte não tenha sido feito de maneira adequada.
Oxidação
Já pegou um vinho branco que tinha uma coloração âmbar? Tokajis, Jerezes e fortificados em geral têm essa cor (ou algo perto dela), mas se você pegar um Sauvignon Blanc, Chardonnay, Pinot Grigio, Viognier (e por aí vai) que estiver com alteração na cor, indo para o âmbar, iiih… Pode estar estragado. O que acontece é que a cor (tanto nos tintos quanto nos brancos) indica sinais de evolução no vinho. Um branco mais evoluído pode, sim, ganhar uma cor um pouco mais escura, mas não são todos os brancos que evoluem bem, então é sempre bom prestar atenção na cor e depois afirmar suspeitas no nariz e em boca. Se ele estiver realmente oxidado, terá pouquíssimos aromas e pode lembrar uma maçã passada. Em boca, é curto, inexpressivo e sem acidez. Escuro, pouco aromático e chato em boca? Oxidado. Os tintos já possuem uma capacidade maior de evolução. Quando começam a adquirir uma cor atijolada, significa que já estão evoluídos e podem estar a um passo da oxidação ou ainda suportar anos de guarda, que é o caso dos grandes Brunellos, por exemplo. Mas se sentir coisas que lembrem acetona, vinagre ou ferrugem nos aromas e isso se repetir em boca ou se apresentar sem acidez e com excesso de frutas secas e passadas, é sinal de oxidação. Lembrando que para concluir que um vinho está oxidado, é importante fazer uma avaliação de cor, aroma e boca, porque às vezes, ele pode só ser mais evoluído do que a média e não estar estragado necessariamente.
E se você não reconheceu nenhum desses defeitos, mas ainda assim não gostou do vinho, pode ser que ele só precise respirar ou que só não tenha agradado ao seu gosto pessoal mesmo.
Texto: Carol Oliveira
Imagem: Kaya Amaral

Veja outros itens relacionados
-
-
Azul Portugal Dão 2008
-
Caitec Pinot Noir 2009
-
Malbec World Day
-
Vinitude Clube dos Vinhos comemora 1 ano!
-
Château Bois Pertuis
-
Investidores chineses estão comprando ‘um château por mês’, dizem corretores.
-
Receitas do Chef Fabio Lima para a Seleção de Julho
-
Para cada tipo de vinho, uma taça
-
Em que temperatura devo servir o meu vinho?
-
Harmonizando | Paleta de cabrito assada com arroz de brócolis
-
Petirrojo
Comentários
Muito boa essas dicas… Carol, que vc acha de fazer alguns vídeos com combinações, topos de carne,de queijo,massas… E o melhor vinho para cada!
Boa Tarde
Tenho em casa algumas garrafas de vinhos antigos e gostaria de saber se alguém poderia me indicar um site ou alguém que posso avaliar o preço das referidas garrafas.
Desde já agradeço
Obrigada Carolina. Vai me ajudar a ficar mais atenta à coloração do vinho e ao paladar.
Obrigado Carolina pelo sua dica, vai me ajuda muito.
Comentário sintético mas passou de uma forma suscinta e rica em detalhes tudo sobre a avaliação de vinhos – explêndida informação; parabéns.
Muito bacana e muito didático!