
Resenha do livro “Vinho & Guerra”

Para os amantes do vinho e da história da humanidade, o livro “Vinho & Guerra – Os franceses, os nazistas e a batalha pelo maior tesouro da França”, do casal Don e Petie Kladstrup é um prato cheio para acompanhar a luta entre os vinicultores e o exército alemão da Segunda Guerra Mundial pelo excelente vinho francês.
A obra segue a trajetória de cinco importantes famílias das principais regiões vinícolas da França, durante a ocupação nazista: os Drouhin, na Borgonha; os Miaihle, em Bordeaux; os Hugel, na disputada região da Alsácia; os de Nonancourt, na Champagne e os Huet, no Vale do Loire.
Após a Primeira Guerra Mundial, a safra de 1939 prometia ser péssima para os vinhos franceses. Para completar o temor, a Alemanha nazista ganhava força e ameaçava invadir a França. Após a anexação da Áustria e a invasão da Tchecoslováquia, esse temor ganhou ainda mais intensidade. Finalmente, com a invasão alemã na Polônia, França e Inglaterra decidiram entrar na guerra. Durante algum tempo, antes da luta se deflagar, os produtores de vinho voltaram suas atenções para suas videiras e esqueceram um pouco a iminente ameaça nazista. Em abril de 1940, no entanto, as tropas alemãs invadiram a França, que se rendeu facilmente. Ao se darem conta do que se passava, já era tarde demais para os vinicultores salvarem seu tesouro.
O exército do Terceiro Reich não teve dó de saquear tudo o que via pela frente. Pegavam tudo que a França tinha e não deixavam nada de bom. Entre os principais produtos, o vinho era um dos destaques. Desesperados, os chefes das famílias buscam uma forma de não perder seus melhores vinhos, ainda mais para os alemães. Na Borgonha, Maurice Drouhin guardou suas melhores garrafas, entre eles os Romanée-Conti das safras 1929 a 1938 atrás de uma parede falsa em suas caves subterrâneas. Em outras regiões, os produtores escondiam do jeito que dava seus melhores vinhos, seja nas caves, adegas e até mesmo no fundo do lago.
Apesar do esforço, a grande maioria dos vinhos foi saqueada pelos alemães. Para piorar, as vinícolas foram invadidas e serviram de abrigo para as tropas nazistas. Os funcionários que trabalham nas casas foram enviados para a guerra e para os campos de concentração, assim como muitos vinicultores. Os cavalos que preparavam os campos foram servir o exército alemão. A produção dos vinhos praticamente parou nos momentos de guerra e, cada vez mais, a pilhagem desenfreada prejudicava os cidadãos franceses.
Para segurar os saques desenfreados, o exército alemão designou homens que intermediavam as negociações entres os vinicultores e os alemães que quisessem comprar os vinhos. Os Weinführers, como eram chamados, conheciam os produtores e facilitavam as compras e não deixavam os soldados saquearem os vinhos.
Com o passar do tempo, o sofrimento dos franceses aumentava. A escassez de comida e conforto revoltava a população. O exército de Resistência ganhava cada vez mais força e adesão da população cansada da ocupação alemã. Os vinicultores, em seus campos de concentração ou lutando na guerra, só pensavam em uma coisa: seus vinhos. O que lhes dava força para suportar o horror da guerra era pensar em seus vinhedos e sua produção. A possibilidade de voltar para casa e cuidar tranquilamente daquilo que ama, era a principal meta dessas pessoas.
As esperanças voltam a crescer com as notícias de que as tropas americanas entrariam na guerra e libertariam a França da ocupação nazista. A invasão dos Aliados na Normandia, em 1943, voltou a levar sorrisos aos rostos franceses, que começaram a pensar em suas vidas normais que levavam antes do sofrimento da guerra. Finalmente os alemães estavam se retirando da França!
Mas ainda faltava uma coisa para os franceses, que era recuperar o seu maior tesouro roubado: os vinhos. Começa a busca das tropas aliadas atrás do “Ninho da Águia”, residência de Hitler em Berghof, na cidade de Berchtesgaden, nos Alpes bávaros. Os franceses chegaram antes dos americanos na casa e encontraram um tesouro inestimável. Quadros, esculturas, e os grandes e famosos vinhos da França.
A comemoração foi em grande estilo, regada com os vinhos recuperados. Os americanos foram recepcionados como heróis. Os vinicultores que sofreram com a guerra voltaram para casa, realizando seus sonhos de viver em paz, fazendo o que mais amavam.
Os autores
O casal de jornalistas americanos, Don e Patie Kladstrup, estavam no Vale do Loire fazendo uma reportagem com o prefeito de Vouvray, Gaston Huet, sobre a escavação de um túnel para trem na região. Ao conversar com Huet sobre isso, descobriram uma incrível história sobre a época da Segunda Guerra Mundial e os vinhos da região. Eles decidiram se aprofundar no assunto e criaram este livro de agradável leitura.
Don Kladstrup é ex-correspondente jornalístico de televisão. Ele já ganhou três Emmys e muitos prêmios por toda sua atividade. Katie é escritora free-lance e escreveu sobre a França. Ambos são colaboradores da revista Wine Spectator.
Por Fabio Martins

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