
Uva País: o que há de mais chileno no Chile

“É o que há de mais chileno que o Chile pode oferecer ao mundo”, diz Patricio Tapia, crítico e autor do famoso Guia Descorchados sobre a uva País. Mas qual seria a história dessa uva que, por anos, foi a principal cepa chilena até ser esquecida ao ponto de nem mais se ouvir falar a respeito? Prepare as taças porque a gente vai começar uma viagem.
Meados do século 16
Uma uva chamada Listán Prieto vivia na Espanha e é levada ao México por missionários franciscanos que tinham como objetivo cultivá-la para produzir o vinho da missa. Lá, ficou conhecida como Misión. Depois de um tempo, viajou aos Estados Unidos, depois à Argentina, onde ficou conhecida como Criolla Chica, até que os jesuítas a levaram para o Chile. Ah, como foi amada a querida País naquelas terras… A princípio, também produzia o vinho da missa, até que ultrapassou as barreiras religiosas e foi desbravar o terroir chileno.
Século 19
Só agora é que a Criolla Chica ganhou o nome de País. Não sabe-se ao certo o motivo, mas ela viveu tempos de rainha no Chile até que a Cabernet Sauvignon e a Carménère chegaram para pedir a coroa. E levaram. Pobre País. Ficou esquecidinha a um nível onde já nem se falava mais de sua existência. Algum boato, alguma memória aqui ou ali, nos terrenos mais remotos do Chile, mas nada que ainda a permitisse aparecer.
Mas aí chegou um francês para ajudar
Louis-Antoine Luyt. Nascido na Borgonha, instigado pela América do Sul. Louis planejou uma viagem de férias que virou estadia permanente, mas para isso, precisava de um trabalho. À época, Louis estava no Chile e virou lavador de pratos em um restaurante local, onde começou a aprender sobre vinhos e conheceu ninguém menos que Hector Vergara: o sommelier mais renomado do país e o único Master of Wine da América do Sul naquele tempo. Hector estava abrindo a Escola de Sommelier do Chile e Louis já estava entre os seus primeiros alunos. Sabe aquela história de que o conhecimento abre portas? Pois é. Abriu. Ainda bem.
Inconformado com a hegemonia da Cabernet Sauvignon e da Carménère nos vinhos chilenos, o francês decidiu que iria explorar as castas e áreas de cultivo do país. Foi então que descobriu que algumas parcelas de outras uvas ainda existiam, mas estavam sendo vendidas ou utilizadas por camponeses para produzir vinho para consumo próprio. Decisão tomada. Louis-Antoine Luyt ia aprender a fazer vinho.
De volta à França
Estudou viticultura e enologia em Beaune e, durante os estudos, fez amizade com Mathieu Lapierre, proprietário da renomada vinícola Villié-Morgon, onde teve a oportunidade de participar de cinco colheitas e ser introduzido ao vinho natural. Mas aí já é história para outro capítulo.
O recomeço
Munido de conhecimento, sonho e coragem, Louis abriu uma vinícola no Chile e começou a explorar diferentes terroirs e cepas locais para produzir vinhos que seriam exportados, principalmente, à França. Mas em 2010, o desastroso terremoto resultou na perda de 90% do seu cultivo. Ele não desistiu. Comprou mais oito hectares de vinhas, entre elas, a protagonista deste artigo: a País. Desde então, a cepa foi voltando aos palcos, retomando os holofotes e mostrando (novamente) toda a sua capacidade para produzir grandes vinhos.
Certo. E o que esperar de um vinho feito com País?
De muita textura e ótima acidez, a País origina vinhos rústicos, bastante gastronômicos e corpo médio. Com o tempo, os taninos ficam tão elegantes e macios que parecem veludo. Se você já conhece a Cinsault ou a Carignan, é possível que encontre algumas semelhanças entre elas.
E foi assim, com um empurrãozinho francês, um holofote chileno e um plateia apreciadora de sua rusticidade e elegância que a País está saindo dos bastidores. A cepa se dá tão bem no Chile e representa tão bem os diversos terroirs da região que, daqui alguns anos, será que carregaria a bandeira chilena?

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Comentários
Recentemente vi uma menção a essa uva no programa “O Mundo do Vinho”, que atualmente passa na GNT. Produzia um vinho de corte que era exportado para a Inglaterra.
Adoraria experimentar…